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sábado, 9 de julho de 2011

Feirão de armamentos no Rio

Um inquérito do Ministério Público mostra um cenário alarmante no Rio: policiais suspeitos de facilitar o comércio de armas e drogas, brigas na PF e controles frouxos nos portos e no Galeão. Pablo Jacob/Ag. O Globo MÃO DUPLA

Na definição do secretário responsável pela pasta, José Mariano Beltrame, “foi o 11 de setembro da Segurança Pública do Rio”. Era manhã de sábado, 17 de outubro de 2009. Com o fogo espalhando-se pela fuselagem, o helicóptero Fênix 3 da Polícia Militar desapareceu entre os barracos do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro.

A cena era cinematográfica. O aparelho fez um pouso forçado em um campo de futebol e, em poucos segundos, foi tomado pelas chamas. Morreram três dos seis policiais a bordo. O helicóptero foi atingido no ar por tiros de fuzil disparados por traficantes que enfrentavam a polícia em terra. Abatido, como se o Rio estivesse em gerra civil.

Ao comparar o atrevimento antiaéreo dos traficantes ao atentado terrorista que derrubou as Torres Gêmeas em Nova York, Beltrame explicitou para a sociedade aquilo que a comunidade de segurança estava cansada de denunciar em reuniões oficiais: a escandalosa omissão do governo federal na luta contra o tráfico de armas.

Por ser Beltrame um delegado da Polícia Federal cedido ao governo do Estado, sua afirmação ganhou ainda mais peso. Na prática, criou um fato político que não poderia ficar sem resposta.

A reação veio da Procuradoria da República. O órgão instaurou um procedimento e passou a investigar a atuação da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal no Rio de Janeiro no combate ao tráfico de armas. O inquérito, que já tem mais de 30 volumes, foi produzido ao longo de um ano e meio e revela um quadro alarmante. As principais conclusões:

1) policiais e servidores pagos para combater o ingresso de armas ilegais no país estão sob suspeita de formar quadrilhas engajadas em facilitar a ação dos criminosos;

2) depoimentos de delegados federais à Procuradoria revelaram uma briga interna na Polícia Federal do Rio que, segundo os procuradores, fragilizou ainda mais as investigações;

3) o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, e os portos do Rio de Janeiro e de Itaguaí são verdadeiras peneiras para a entrada de armas e drogas.

O cenário descrito pelos procuradores seria preocupante em qualquer circunstância. No caso do Rio, chama ainda mais a atenção porque a cidade deverá abrigar a final da Copa do Mundo de 2014 e sediar a Olimpíada de 2016.

Durante esses dois eventos, a atenção do mundo estará concentrada no Rio. Antes deles, seria bom impedir que marginais tivessem acesso a armas capazes de derrubar helicópteros e atingir as forças policiais a quilômetros de distância.

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