CONFIRA O NÚMERO DE HOMICÍDIOS POR BAIRROS EM SALVADOR
A resignação do carioca é a mesma de José Jeferson Pinho, 60 anos de vida e Subúrbio, 13 em Paripe. Ao lado de sua banca, abarrotada de aipim manteiga, acompanha o movimento da Avenida Eduardo Dotto: enquanto lojas de eletrodomésticos disputam clientes e ambulantes vendem de refrigerante a celular, uma morena de pernas firmes encosta no cachorro-quente. E só então Paripe para. “Ó pra lá, maluco!”, exclama, de passagem, um estudante do Colégio Estadual Almirante Barroso. “É assim todo dia. A gente ouve falar de violência, morte, mas a rua está sempre cheia”, conta José Pinho ao entregar três quilos de aipim a Magaiver, motorista do CORREIO. “Fica R$ 45”, cobra, se referindo, na verdade, aos R$ 4,50 muito bem pagos. Disputa Não longe dali, no fim de linha de Paripe, os discursos são mais ressentidos. Um grupo de jovens logo deixa transparecer um misto de medo e raiva em relação “aos ‘cara’ do Bate Coração”. “Aí dentro só tem vagabundo. Eles ficam nessa disputa pra vender droga e saem matando. A polícia tinha que invadir era aí, não no Calabar”, diz um rapaz de 30 anos, sobre a implantação da primeira Base Comunitária de Segurança da capital baiana. O Bate Coração é uma das muitas localidades de Paripe. “Quem é doido de entrar nessa porra? Pior é que esses ‘cara’ saem daí pra tirar onda com a gente aqui embaixo”, continua o mesmo rapaz. Portelinha 1, Portelinha 2, Nova Canaã e Muribeca são só mais algumas comunidades que não andam bem cotadas pelas ruas do bairro. “Antes tinha festa aqui no fim de linha. Se fizerem uma agora vai ter um bocado de morte pra botar no jornal”, diz outro rapaz do grupo. “Sou capaz de entrar no Bate Coração com a polícia só pra mostrar os esconderijos”, completa. Paz Por outro lado, há os mais cautelosos, como Carlos Alberto, 50 anos, dono de um bar no bairro em que vive desde os 5. “Marginal e gente de bem tem lá dentro (aponta para o lado do Bate Coração) e aqui na rua”. Em seguida, ele afirma que a maioria dos moradores de Paripe conhece os bandidos. “Às vezes passo por um deles e cumprimento, não quer dizer que é meu amigo”, diz. Para evitar confusão em seu bar, Carlos filtra o repertório musical e evita fazer grandes festas. “Eles (os criminosos) nem encostam”. Então, lembra de um conselho da mãe que serve para todos que querem distância dos homicídios: “Se dê, mas não se misture”.
Estatística surpreende polícia
Entre os moradores de Paripe ouvidos pelo CORREIO, a afirmação é unânime: tem muitos policiais nas ruas. Para o major Couto, comandante da 19ª CIPM, a visão da população é resultado de “um trabalho intenso de policiamento ostensivo, com abordagens a todo momento”.
O oficial se surpreendeu ao saber que Paripe tinha o maior número de homicídios no boletim da SSP e argumentou que muitas mortes registradas no bairro são casos de encontro cadavérico. “Temos mortes sim, mas está diminuindo. Só que temos muitas áreas isoladas usadas em desova”, disse.
O delegado Antônio Carlos Magalhães, titular da 5ª DP, concorda com os moradores que dizem que boa parte das mortes é causada por disputas de traficantes. “Mas a maior parte dos chefes do tráfico no Subúrbio está presa”, ressaltou. O principal objetivo do delegado agora é prender José Alves Neto, o Dedeco, que atua na região da Cocisa.
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